As Quedas

Um fascinante conjunto de 92 curtas-metragens no estilo documental da BBC, este projeto oferece um olhar profundo sobre as vidas de 92 vítimas de um evento enigmático conhecido como V.U.E. (Evento Violento e Não Explicado). Cada uma das narrativas é centrada em personagens cujos sobrenomes começam com “Fall”, mergulhando o público em uma teia de histórias interligadas e criativas que emergem de uma experiência traumática compartilhada.

A trama gira em torno de um acontecimento misterioso que transformou o planeta, levando à imortalidade em algumas pessoas, mas também a deficiências que alteram suas vidas de maneira irreversível. Os sobreviventes desta catástrofe enfrentam não apenas os desafios físicos, mas também as mudanças culturais e linguísticas que o evento gerou. Curiosamente, muitos deles desenvolveram novas e peculiares formas de comunicação, criando um rico mosaico de idiomas que refletem as realidades distorcidas em que vivem.

Alguns indivíduos afirmam que os pássaros são responsáveis por seu destino, envolvendo-se em teorias excêntricas que discutem a influência destes seres nas tragédias e alegrias da condição humana. Este aspecto da narrativa confere uma camada surreal à obra, que se destaca pela sua abordagem única e provocativa, semelhante ao estilo dos aclamados documentários ‘Water Wrackets’ e ‘Dear Phone’.

Com um formato que cativa desde o início até o fim, este filme de três horas apresenta a biografia detalhada de cada vítima de forma intercalada, revelando suas esperanças, desilusões e os laços que formam uns com os outros. O tom é simultaneamente melancólico e humorístico, ecoando temas presentes em projetos anteriores de Peter Greenaway, como ‘A Walk Through H’ e ‘Vertical Features Remake’, e estabelecendo uma ponte para obras futuras como ‘Drowning by Numbers’.

A trilha sonora de Michael Nyman acrescenta uma dimensão adicional ao filme, sendo especialmente memorável. Ele reinterpretou a famosa ‘Bird List Song’, que aparece em várias formas ao longo da narrativa, como ‘Hands 2 Take’, em colaboração com a banda britânica Flying Lizards, conhecida por sua versão minimalista de ‘Money (that’s what I want)’. Este elemento sonoro não só embala a experiência visual, mas também provoca a reflexão sobre a relação simbiótica entre a música, as imagens e as histórias contadas.

Este projeto é uma celebração da resiliência humana diante do absurdo e do desconhecido, apresentando, através das lentes de vidas interligadas, um retrato vívido da condição humana e das forças que moldam nosso destino em um mundo inexplicável.