Síndromes e um Século

A história gira em torno dos pais do renomado diretor Apichatpong Weerasethakul, ambos médicos, e das memórias evocativas de sua infância passadas em um ambiente hospitalar. Ao longo do filme, o público é convidado a mergulhar na vida desse cineasta visionário, que transforma suas recordações em uma tapeçaria vibrante de experiências sensoriais e emocionais.

Os pais, figuras centrais na formação do diretor, são retratados não apenas em seus papéis profissionais, mas também em suas complexidades pessoais. A mãe, uma médica dedicada, é mostrada enfrentando os desafios diários de um hospital, enquanto o pai, igualmente comprometido, traz uma gravidade e sensibilidade à narrativa. Juntos, eles não só cuidam de seus pacientes, mas também moldam as percepções de Apichatpong sobre vida e morte, dor e cura.

Durante sua infância, Apichatpong cresce entre os corredores frios e estéreis do hospital, onde o cheiro de desinfetante é entrelaçado com o calor humano das interações entre médicos e pacientes. Essas experiências tornam-se um símbolo forte em sua obra, refletindo temas universais como a fragilidade da vida e a busca por conexão. O filme revela como o ambiente hospitalar influenciou sua visão de mundo e, consequentemente, sua abordagem cinematográfica, cheia de lirismo e contemplação.

À medida que a narrativa se desenrola, o diretor revisita episódios fundamentais que moldaram sua sensibilidade artística. Flashbacks poéticos mostram momentos de alegria simples, como as conversas com pacientes em leitos de hospital, misturando risadas com lágrimas, que capturam a essência da experiência humana. Os cenários hospitalares, com suas cores desbotadas e iluminação à luz fluorescente, contrastam com as reminiscências vívidas e coloridas da infância de Apichatpong.

Assim, a obra não é apenas uma homenagem a seus pais, mas um mergulho profundo em sua psique, onde o espectador é levado a contemplar a dualidade da vida—o sagrado e o profano, a cura e a dor. O filme convida à reflexão sobre o que significa crescer em um lugar onde a espera e a incerteza são parte do cotidiano, transformando memórias em arte, e dor em beleza. É uma obra que promete ressoar no coração de quem assiste, revelando a proximidade entre a arte e a vida, o passado e o presente.